fevereiro 09, 2008

Quando puder...

Devo o encontro com Cavafy a uma memória perdida e insuficiente, espraiada, todavia, num deslumbramento perpétuo pelas coisas. Reconheci-o (não tenho dúvidas que o reconheceria sempre) numa esquina inoportuna, esvaziada por um qualquer salafrário de sacristia académica, poisado, como um anjo, num saldo de hipermercado. Agradeci. Agradeci e morri mais um bocado.
A minha companhia anuiu. Também terei a minha Alexandria?
À noite ainda me sussurra: quando puderes…


Quanto Puderes


Se não podes fazer da vida o que tu queres,
Tenta ao menos isto,
quanto puderes:
não a disperses em mundanas cortesias,
em vã conversa, fúteis correrias.

Não a tornes banal à força de exibida,
e de mostrada muito em toda a parte
e a muita gente,
no vácuo dia-a-dia que é o deles
- até que seja em ti uma visita incómoda.

CAVAFY

Tradução: Jorge de Sena

Nenhum comentário: