março 13, 2009

Carta registada aos (três) sportinguistas que seguem este blog – com aviso de recepção


Existe uma expressão bem nacional que serve para tudo e não quer dizer nada: “é como tudo na vida”. E como tudo na vida o Sporting vai morrer, neste caso como aqueles fanáticos da vida asséptica, vai morrer, dizia, cheio de saúde (financeira - dizem-nos). Governado nos últimos anos sob o signo da economia e do critério quantitativo (para algumas coisas), numa gestão em tudo semelhante à política portuguesa de encerrar centros de saúde e outros equipamentos, decidindo-se com base em critérios como a densidade populacional e a distância para outros centros. Sucede que 20 km no interior representam por vezes o dobro se comparados com outros pontos do país, isto para não falar das condições climatéricas e da estrutura etária e social das regiões. De igual forma, a direcção leonina, altiva no seu enfado para com os sócios, núcleos e simpatizantes em geral, não respeita, suponho até que desconhece, as idiossincrasias do clube e claramente do inefável futebol português. Desde logo, sempre se afastou da plebe como o diabo foge da cruz (apenas nos últimos meses anda em demanda). O eclectismo é hoje uma fachada, provavelmente sem a força de Moniz Pereira mesmo o atletismo já tinha debandado. Não existe um pavilhão. A equipa de futebol raramente treina ou se digna deslocar ao estádio para saudar os sócios. O estádio é um centro comercial, e aposto um dedo mindinho, decrépito não tarda nada. Os jogadores da casa e a colagem constante à formação, fazem do clube uma espécie de colégio interno bem para preparar os meninos para altos (e outros) voos, e ganhar não interessa para nada. As modalidades de referência desaparecem mesmo na vertente não profissional, afastando assim antigos e potenciais sócios, que desde sempre frequentaram as instalações do clube, como aliás o presidente dos lampiões para (diz ele) praticar natação. Em cada dez pequenos praticantes, mesmo com ligações ao quintal da luz, metade, arrisco outro dedo mindinho, ficavam com amor à causa.
Sucede que a juntar a tudo isto ainda se verifica uma mentalidade miserabilista e relativista. Levamos 12 mas cumprimos o objectivo dos oitavos. Fomos eliminados da taça mas vamos à final da copa da liga. Não lideramos o campeonato mas poderíamos e quem sabe, nunca, nunca se sabe, podemos ainda vir a liderar. Sofrer uns 1500 golos na liga dos campeões não é uma vergonha, será quando muito, algo para reflectir dentro do caralho do grupo. Estamos no desporto como na vida, diz sempre o pescocinhos (sr Presidente) enquanto afirma que uma bola de futebol é apenas uma hipérbole de outra de golfe, e se calhar até se joga com um taco, o que não deixa de ser verdade a julgar por alguns jogadores. Pobre e miserável não são palavras sinónimas. Mais a mais, ninguém é responsável, ninguém assume nada, e a estrutura do futebol é de um amadorismo a toda a prova.
Anos atrás alguns amigos meus diziam-me que não compreendiam como é que um clube que não ganhava nada levava tanta gente aos estádios. Eles não poderiam saber. E agora também já não interessa.

Um comentário:

jose ilidio torres disse...

Numa só palavra...
Muito bom.