março 11, 2009

Recordação em solilóquio mudo

Não é por obra do acaso que aprecio andar sozinho. Em primeiro lugar as conversas são mais interessantes e em segundo tenho quase sempre razão. Uma vez encontrei o César Monteiro nas escadas do cinema King em Lisboa e aquele olhar ressumava a “deixem-me sozinho” misturado com o pessoano “ não sou de companhia” e um outro a lembrar “ se fores gaja e novita, vá lá, podes dar uns gritinhos”. E pedir uma romã. Também acontece ter-se que ficar na casa de um amigo, vá lá, uns tempos, mas amigo que é amigo, ou melhor, amigo é a mesma coisa que um gajo estar sozinho a dobrar, e gosta disso, e ainda assim não dá para desenvolver esta ideia. Amigos e livros e espelhos. Recordo-me de um (amigo) em Coimbra. Nuno L. de sua graça. Batia o pé ao escutar aqueles trengos dos AC/DC, enquanto descolava as páginas de uma Gina usada. Bebíamos à tripa forra e depois abalávamos rente à berma até à Figueira da Foz, ver o mar e comer percebes. Outras vezes na demanda da Figueira desaguavamos em Espanha, outras em Viseu com direito a prova de vinhos e enchidos e queijo (não necessariamente por esta ordem), mais ou menos como no livro do Venedikt Erofeev, De Moscovo a Petuchki - a Lucidez de um Alcoólico Genial (1995 , Cotovia), em que o tipo sempre que procurava o Kremlin ia dar de ventas com a estação de Kurst. Nem todos tem a sua Figueira pois não?...

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