setembro 05, 2009

O voto inútil

Já rabeia na padaria o bichinho das eleições. Um conjecturável comunista (filho de um verdadeiro marxista), rapaz de pedinchices e de pouco trabalho, aceitou (presume-se que) abnegadamente, dois bonezinhos e uma bolsinha com as cores de uma lista (nos antípodas do seu pensamento filosófico político) candidata à junta de freguesia. Cheira a vitória e não convém defraudar os “amigos”. Recebida a lembrança, avança com um sorrisinho e sentencia humildemente: “voto nas pessoas, não nas cores”. Ele presumivelmente nem vota. Mas carece, precisa muito, de continuar a gravitar perto daquelas mesas, a aparar as migalhas, cuidadosamente, e a receber vitupérios pela frente e à canzana. E para quê? Neste caso particular, pasme-se, apenas para poder andar por aí. Sentir-se entre afeiçoados. Digno. Mais próximo do centro da mesa, balofos avinhados em álcoois mais ou menos respeitáveis, esses sim, correm por dentro, farejando o bolo, a possível sinecura. A escudela pode ser sua. Estes, quanto a social-democracia, socialismo ou física nuclear, apenas lhe adivinhando os dentes rebolam de imediato para outro assunto: bola, o preferido; o Liedson na selecção (continua a ser bola, mas de carácter histórico filosófico); ou a possível lambidela política no encerramento do jornal das sextas na TVI (a rubrica da actualidade). Três segundos após o início de qualquer destes temas, pode advir um quarto ou quinto, de preferência começado por:” diz que” ou “ouvi na televisão” ou “como diz o outro”, ou ainda, quando (na melhor das hipóteses) assoma um pensamento efectivamente próprio, ou é intransmissível ou principia com o creditado “vi num documentário”. Foi assim que um tipo de andar aligeirado pelo Favaios, improvisou que qualquer um que se naturalize português, deveria, para além dos pressupostos legais (a versão original era: “as cenas que têm que ser cumpridas”), fazer um teste sobre cultura e história portuguesa, “como fazem na América” (esta é a parte do documentário). Assentimos. Mas talvez fosse interessante começar por fazer os testes aos nativos. Teríamos um país mais esvaziado. E, como explicava outro dia na padaria um Ucraniano a dois papagaios de ventre dilatado e semblante abigodado:”porra, vocês não sabem nada da vossa história. Até eu estudei os descobrimentos portugueses, e outras coisas”. O ventre maior, generoso, condescende com um sorriso de néscia bonomia, ao mesmo tempo que coloca as mãozinhas gordurosas em concha atestando: “ah…ah, a minha escola já foi há muito tempo..eh…eh…há muiiito tempo, fiu”. 

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