janeiro 11, 2012

Viagem à volta de quarta-feira

Ele recorda. Catorze e qualquer coisa da tarde ou seriam treze e muito.
Uma mão aproximava-se da estante: Defoe ou Swift?, parecia indicar, enquanto ali ao lado, uns olhos que pertenciam ao corpo que sustentava essa mão, incrivelmente, liam:

“Swift propusera-se ajuizar o género humano e deixou um livro de literatura infantil. Isto deve-se ao facto de as crianças lerem as duas viagens iniciais do capitão Lemuel Gulliver e omitirem as últimas, que são terríveis. Perdeu a memória, mesmo a do passado imediato. Ao despedir-se de um amigo, costumava dizer-lhe: «Boa noite. Espero que não nos voltemos a ver.» Nos últimos dias ia de aposento em aposento, repetindo «Sou o que sou», como que para se aferrar de algum modo à sua íntima raiz.”

J.L. Borges sobre Jonathan Swift, “Biblioteca Pessoal. Prólogos”, Vol. IV das Obras Completas, Edição [magnífica da finada] Teorema. Tradução de Cristina Rodrigues e Artur Guerra.

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