março 07, 2012

Estava tão calmo como uma parede de adobe ao luar


Ela chegou ao cimo da escada e voltou-se para o motorista dizendo:
– Mr. Marlowe vai levar-me ao meu hotel, Amos. Obrigada por tudo. Telefono-lhe de manhã. 
– Sim, Mrs. Loring. Permite-me que faça uma pergunta a Mr. Marlowe?
– Certamente, Amos.
– «Fico velho… fico velho… enrolo as calças até ao joelho.» O que significa isto Mr. Marlowe?
– Absolutamente nada. Apenas soa bem.
Sorriu.
– É da
Canção de Amor de J. Alfred Prufrock. E agora outra. «Na sala as mulheres vêm e vão / Falando de Miguel Ângelo.» Isto sugere-lhe alguma coisa, senhor?
– Sugere, sugere. Sugere-me que o tipo não sabia nada acerca de mulheres.
– Precisamente o que eu sinto, senhor. E, não obstante, eu admiro muito T.S. Eliot.
– Você disse «não obstante?»
– Pois disse, Mr. Marlowe. Porquê? É incorrecto?
– Não, mas não diga isso em frente de um milionário. Podia pensar que você está a gozar com ele
.”

“O imenso adeus” (pp.343), Raymond Chandler. (Editorial Presença. Tradução de Carlos Grifo Babo)

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