junho 16, 2012

Na padaria o silêncio nunca foi de ouro

Nem o silêncio nem o colar da Miquinhas. E pelos vistos, nem os anéis do Sr. Silva. A Custódia antes de estar entrevadinha, costumava pavonear-se (verbalmente claro), que era só querer, só querer, e faria uma vista, oh se faria, na procissão da Senhora da Agonia, que ouro era coisa que não lhe faltava. Na padaria, em permanência, ficou apenas uma tristeza miudinha e o Mendes a falar da sua época. O Tabuletas, faz tempo, não pede “fogos”, e um cortejo de gajos novos, ronda, cheira-lhes a Martini, pedem fiado. Envergonham-se.

Ali perto, o café do Zé passa-se, vende-se ou, em último caso, atira-se juntamente com uma vida, pela borda fora. À sua frente, o café do burro, aguenta, tem tempo, sucursais. “Até ver”, repete-nos a se Lurdes, “até ver”. Adiante, não muito, no das putas, ficaram alguns alegretes, avulso, a consultar os classificados que os levariam ao paraíso da alcova, houvesse dinheiro. Foram-se as putas, ficaram as torres, vazias, escuras, como estranhos insectos erguidos para o céu. Taipam-se os últimos negócios, que se faz tarde. E os restos passeiam-se pelo centro comercial, a nova praça das nossas dores. Ninguém protesta. É a vidinha.

Mas à noite custa mais. É que por aqui o silêncio nunca foi de ouro.

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