dezembro 18, 2012

Cartografias do espaço vazio



Enquanto avança pelo longo corredor da ala ocidental do casarão, sente a sua solidão com mais intensidade, mas também com mais prazer que nunca. O prazer é absolutamente novo para ele e parece-lhe que está ligado à dor de avançar sozinho pelo corredor familiar. Enquanto continua a caminhar por esse corredor, avança tão profundamente na análise desse novo prazer, que acaba por temer a sensação de entrar em terreno desconhecido, no espaço onde se encontram os limites  da sua capacidade de pensar. É como se tivesse chegado ao sítio onde já não pode ir mais além pensando. Sente uma breve vertigem, como se já estivesse a avançar pelo corredor que conduz ao espaço vazio que existe fora de toda a família humana, a começar pela sua. Desde que o operaram, tem sentido, dia a dia, uma estranha expansão dos recantos ou, melhor dito, das células do seu cérebro.

“Desaparece Daqui” (pp. 132.133), in Exploradores do Abismo, Enrique Vila-Matas. Teorema. Tradução de Jorge Fallorca. 


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